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Acessibilidade e Ensino Superior
Conheça alguns dos trabalhos e iniciativas da Universidade do Porto que procuram dar resposta aos desafios colocados ao Ensino Superior com a evolução da tecnologia.
04 Maio 2021
São vários os desafios colocados ao Ensino Superior (ES) com a evolução da tecnologia associada à melhoria dos ambientes de ensino-aprendizagem e investigação, mas também com a mudança das culturas e das características dos públicos que estudam, trabalham e contactam estas instituições.
Estando envolvidos em iniciativas como o GTAEDES1 (Grupo de Trabalho para o Apoio a Estudantes com Deficiências no ES), sabemos que são já muitas as instituições de ES a desenvolverem trabalhos no domínio da acessibilidade. Neste artigo, iremos apresentar alguns desses trabalhos e dar conta das iniciativas da Universidade do Porto (U. Porto) nesta área.
GTAEDES e a BAES – Biblioteca Acessível do Ensino Superior
A BAES é um projeto concluído em 2007/08, financiado pela Inclusão Digital - Linha de apoio financeiro ao Programa Nacional para a Participação dos Cidadãos com Necessidades Especiais na Sociedade da Informação.
Surgiu após um longo trabalho, que envolveu nove Instituições de ES com serviços de apoio aos estudantes com Necessidade Educativas Específicas (ENEE), com o objetivo de estabelecer um acervo mais vasto de informação indispensável para a frequência do ES em suporte acessível. A BAES (baes.up.pt) é uma plataforma de partilha de documentos acessíveis produzidos pelas Unidades de Produção de Informação. Esses documentos são essencialmente bibliografia relevante para estudantes do ES que não são capazes de aceder a formatos impressos.
Na prática, qualquer pessoa pode usar esta base de dados. Cada estudante identificado no sistema como tendo dificuldades de acesso ao texto impresso pode fazer o download do documento em formato acessível.
Na componente tecnológica, os registos dos documentos e os objetos digitais estão disponíveis nos repositórios das instituições que participam no projeto, em coleções específicas, identificadas como ALFA. A descrição dos documentos, a gestão dos objetos digitais e o controle de acessos são da responsabilidade de cada uma das IES, sendo o software DSpace o mais comum para esta gestão2.
O projeto inicial também incluía um agregador de pesquisa, que permitia recuperar informação de todas as coleções ALFA, independentemente da sua localização ou solução tecnológica adotada, recorrendo ao protocolo Z39.50 para a troca de informação.
A desatualização tecnológica do agregador de pesquisa que foi descontinuado e dos repositórios institucionais onde estão alojadas as coleções ALFA, que em algumas instituições continuam a usar as soluções tecnológicas iniciais, permite concluir que a renovação da componente tecnológica tem caráter urgente neste projeto.
Em articulação com outras iniciativas nacionais, o grupo de instituições promotores da BAES sugeririu a participação no agregador dos catálogos das Bibliotecas das Instituições de Investigação e Ensino Superior em Portugal, atualmente em desenvolvimento - «Biblioteca Comum». Esta participação garante uma melhoria significativa nos mecanismos de pesquisa e recuperação de informação e é expectável que a necessária reestruturação técnica permita voltar a disponibilizar um interface de pesquisa a curto prazo.
Outras iniciativas GTAEDES
Mantemos encontros anuais de informação e sensibilização sobre inclusão no ES e encontros técnicos entre membros do grupo para estudo de assuntos de interesse, bem como troca de boas práticas. Os registos destes trabalhos encontram-se públicos no site do grupo, para quem tenha interesse em consultar. A adesão ao grupo pode ser feita a qualquer momento.
Na Universidade do Porto
O compromisso da U. Porto com a inclusão, em particular dos estudantes com necessidades específicas, passa, também, pela preocupação com a disponibilização em formato acessível dos conteúdos pedagógicos, formulários, requerimentos e outros documentos usados na comunicação com o estudante. A acessibilidade é uma mais-valia que beneficia todos: os que têm limitações físicas ou sensoriais de forma permanente ou temporária ou os que, num dado contexto de uso, aproveitam as vantagens de um conteúdo acessível e inclusivo.
A produção de documentos acessíveis não é difícil e, na prática, resume-se à adoção de procedimentos que já deviam fazer parte natural da nossa relação com as aplicações informáticas usadas para produzir conteúdo. No entanto, sabemos que a aplicação destes procedimentos levanta muitas dúvidas e inquietações, para as quais nem sempre existe uma resposta clara na caixa de edição do Google. Assim, parte do nosso trabalho passa por investigar, criar e partilhar informação sobre como produzir conteúdos acessíveis. Neste sentido, em 2012, com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian e a colaboração de várias entidades, a U. Porto colocou online a plataforma de acessibilidade – PLACES. Neste portal, foi reunida e apresentada informação em formato simples e claro sobre como produzir documentos acessíveis a todos. Para além de textos, foram desenvolvidos vídeos curtos que ilustram a aplicação da informação apresentada.
Estes tutoriais, organizados por tipo de conteúdo e ferramenta, abordam o processamento de texto, a descrição de imagens simples e complexas, os elementos de formatação, as tabelas, as melhores práticas para a criação de ficheiros PDF, as apresentações em PowerPoint e o HTML.
Ao longo dos anos, o NAI tem promovido várias ações de sensibilização e formação, também na área da acessibilidade dos conteúdos, destacando-se a formação no formato DAISY3, uma tecnologia opensource baseada em HTML e XML, que produz ficheiros interativos, juntando áudio, imagens e texto.
Sítios web
A U. Porto tem uma forte e diversificada presença na Internet, de que são exemplo os sites associados aos Serviços e o Sistema de Informação usado nas 14 Unidades Orgânicas – SIGARRA4. O SIGARRA é, aliás, a ferramenta de trabalho basilar da comunidade académica, agregando ferramentas das áreas académica, financeira e de recursos humanos da U. Porto.
As equipas de desenvolvimento para a Web têm feito um esforço contínuo para que as páginas Web criadas acompanhem as normas sobre acessibilidade e usabilidade. Neste sentido, os portais mais recentes5 têm uma pontuação igual ou superior a 9 no Access Monitor Plus da Unidade Acesso. Ainda que a grande maioria dos restantes sites não coloque entraves significativos no acesso à informação, está a ser feito um esforço de renovação para tornar estas plataformas (algumas com 26 anos de desenvolvimento) 100% acessíveis.
Também está para breve a renovação do site principal da U.Porto e a acessibilidade e usabilidade são duas das suas pedras basilares.
E-learning
A unidade de Tecnologias Educativas da U. Porto, em particular o núcleo de Tecnologias Educativas nos seus mais de 20 anos de existência, tem sido pautada pelos altos níveis de colaboração com os diferentes serviços da universidade e, sobre a temática da inclusão, a nossa articulação com o NAI revela-se fundamental para melhor resolver e responder às necessidades de todos os nossos utilizadores. Por um lado, existe o compromisso com a promoção de práticas ativas de apoio à inclusão. Algumas dessas concretizaram-se em ações de formação à comunidade docente e não docente, como por exemplo a formação de acessibilidade em sala de aula ou a criação de documentos digitais acessíveis, iniciativas com origem há mais de uma década (2010). Mas concretizam-se também na implementação de baterias de testes automáticos e com recurso a utilizadores que nos permitem garantir que a nossa plataforma de apoio ao ensino, o Moodle U. Porto, é inclusiva, dá todas as garantias de acesso à informação lá armazenada e garante a possibilidade de uma participação ativa em atividades lá existentes para as mais de 4000 unidades curriculares e mais de 34 mil utilizadores das 14 faculdades da U. Porto. A resposta a desafios de acessibilidade colocados por docentes e estudantes NEE são, de resto, uma das nossas maiores preocupações.
Por outro lado, no âmbito de ação do núcleo de Tecnologias Educativas, que inclui a gestão e manutenção das plataformas de e-learning, o apoio e desenvolvimento de conteúdos multimédia, o desenvolvimento e suporte de MOOCs e a avaliação online, a acessibilidade e os critérios de inclusão estão sempre presentes. Dessa forma, indiretamente veiculamos sempre as melhores práticas que permitem ter um ensino mais inclusivo. Sempre que procuramos uma nova ferramenta a ser disponibilizada à comunidade, garantimos que a mesma cumpre requisitos de acessibilidade e realizamos testes de forma a garantirmos a sua utilização. Seja para a criação devídeo, para a deteção de plágio ou para qualquer outro fim.
No universo das 14 faculdades da universidade, são múltiplas as necessidades educativas especiais que devem ser mitigadas. «A nossa missão é promover e apoiar o uso de um leque diversificado de tecnologias para tornar mais eficaz o ensino e aprendizagem em contexto de b-learning e e-learning» (in Portal de e-learning), independentemente das suas necessidades ou contextos de utilização.
Investigação e desenvolvimento
Também no domínio da investigação e desenvolvimento a U. Porto desenvolve trabalho nesta área.No ano letivo 2019/20, foram desenvolvidos alguns projetos no âmbito das UCs de Interação e Interfaces Multimodais, respetivamente do Mestrado em Design da Imagem da Faculdade de Belas-Artes e Mestrado em Multimédia da Faculdade de Engenharia:
- LUMEN – Site que tem por objetivo difundir, entre os professores da Universidade do Porto, soluções inclusivas para atender alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) por meio da partilha de relatos de experiências, ferramentas e informações.
- MOVE.UP – Aplicação móvel cujo foco é disponibilizar aos estudantes deficientes visuais os apoios necessários para se poderem deslocar livre e autonomamente dentro da U. Porto, através de modos de interação como o áudio e a vibração.
- UP GUIDE – Aplicação móvel com o propósito de suportar a orientação espacial de pessoas cegas ou com baixa visão nas faculdades da Universidade.
- TRUST EYE – Aplicação móvel que agrega em si todas as informações obtidas pelos diferentes aparelhos tecnológicos que fazem parte de um sistema multimodal, cujo único objetivo é auxiliar cuidadores para responderem melhor às necessidades da pessoa de quem cuidam, fornecendo- lhes dados fisiológicos precisos em tempo real e rastreamento posicional.
- MACGUFFIN – Jogo inclusivo, dotado de recursos multimodais, para ser jogado equitativamente entre utilizadores invisuais e normovisuais.
Conclusão
Deixamos aqui este pequeno testemunho do trabalho na U. Porto, mas que cremos ser apenas um exemplo de muitos outros que existem em diferentes IES e que decorrem neste preciso momento. Estamos convencidos de que a inclusão e a acessibilidade estão em construção neste nível de ensino e as experiências com mais sucesso são aquelas produzidas em cooperação entre serviços e que envolvem toda a comunidade num trabalho de mudança, não apenas de práticas, mas igualmente de culturas e mentalidades. Muito haverá ainda por fazer, mas estamos certos de que no futuro encontraremos um ensino universitário cada vez mais inclusivo.
Alice Ribeiro e António Silva | Núcleo de Apoio à Inclusão
Augusto Ribeiro | UPdigital – Bibliotecas Bruno Giesteira | Docente e Investigador Nuno Regadas | Tecnologias Educativas
Vítor Carvalho | UPdigital – Unidade de Desenvolvimento e Inovação
1 GTAEDES (www.gtaedes.pt) – É um grupo constituído por instituições de ES com serviços de apoio a estudantes com deficiência, com o propósito de: 1) proporcionar um serviço de melhor qualidade a estudantes com deficiência; 2) promover a aproximação interserviços que apoiam estudantes com deficiências, por forma a facilitar a troca de experiências, o desenvolvimento de iniciativas conjuntas e a racionalização de recursos.
2 À data deste artigo, as coleções ALFA com presença online são as seguintes: Universidade do Porto - https://repositorio-tematico.up.pt/handle/10405/1 Universidade de Aveiro - http://baes.ua.pt/handle/10773/1
Universidade de Évora - https://dspace.uevora.pt/ri/handle/123456789/20 Universidade de Coimbra - https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/91306 Universidade do Minho - https://baes.sdum.uminho.pt/handle/1822.1/245
Universidade de Lisboa - http://digitool01.sibul.ul.pt/R/-?func=collections-result&collection_id=1196
3 DAISY – Digital Accessible Information System https://daisy.org/
4 SIGARRA – Sistema de informação para a gestão agregada dos recursos e dos registos académicos (ver mais informação no site TIC da U.Porto)
5 «Serviços IT da U. Porto» https://www.up.pt/it); «Serviços e Recursos de Documentação e Informação» (https://www.srdi.up.pt); «Apoio à Inclusão» (https://www.up.pt/nai) da U. Porto.
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A 6 de outubro de 2020, foi lançado pela Agência para a Modernização Administrativa, I.P. o novo site da Acessibilidade, que reúne informação, melhores práticas e ferramentas de apoio à acessibilidade e à usabilidade digitais.
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A sinistralidade rodoviária não é uma fatalidade, nem é uma situação inevitável e pode ser combatida com sucesso. Fique a conhecer algumas das alterações e que impacto terão no seu dia a dia.
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